Conflitos internacionais e mudanças no mercado impactam diretamente os repasses aos municípios produtores da Bacia de Campos
As tensões geopolíticas no Oriente Médio e no Leste Europeu, somadas às políticas tarifárias adotadas pelo ex-presidente norte-americano Donald Trump, influenciaram negativamente os preços do petróleo no mercado global. A cotação do barril, que girava em torno de US$ 80 em janeiro, caiu para US$ 70 em março, chegando a US$ 59 em abril e oscilando entre US$ 60 e US$ 67 em junho. Essa desvalorização afetou diretamente as finanças dos municípios produtores da Bacia de Campos, forçando medidas de ajuste fiscal.

De acordo com levantamento do Campos 24 Horas, os municípios mais afetados pela redução na receita de royalties foram Quissamã, São João da Barra, Macaé e Campos. Entre janeiro e maio, Quissamã teve a maior queda, com redução de 25% nos repasses, seguida por São João da Barra (20%), Macaé (7,5%) e Campos (5%).
Em contraponto, Carapebus registrou aumento de 16%, impulsionado pelo crescimento da produção em plataformas próximas ao seu litoral.
Os valores repassados em junho, referentes à produção de abril, também sofreram impacto. São João da Barra, por exemplo, recebeu R$ 20,1 milhões, o que representa queda de 22,3% em relação ao mês anterior. O recuo nos repasses está ligado, entre outros fatores, à parada programada da plataforma P-53. Quissamã contabilizou R$ 14,3 milhões, o que significou redução de 14,7%. Já Campos teve perdas de 11,7%, recebendo R$ 52,8 milhões, enquanto Macaé somou R$ 115,2 milhões, 10,5% a menos do que no mês anterior.
Segundo o economista Ranulfo Vidigal, diretor de Indicadores Econômicos da Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Campos, “Macaé não sofre grandes impactos com a queda nos royalties por ter uma base sólida de arrecadação tributária vinda da cadeia produtiva do petróleo”. São João da Barra também mantém certa estabilidade graças à receita de ISS gerada pelo Porto do Açu. “Campos também tem uma dependência menor dos royalties, enquanto Quissamã é o município mais vulnerável, com 95% de sua economia sustentada pelos repasses do petróleo”, destacou o economista.
Diante desse cenário, o prefeito de Quissamã, Marcelo Batista, anunciou um plano de contenção de despesas, com revisão de contratos e processos administrativos. O objetivo, segundo ele, é garantir a manutenção de serviços essenciais, como saúde e educação, além de preservar os empregos.
O secretário de Desenvolvimento, Turismo e Trabalho de Quissamã, Arnaldo Matoso, ressaltou os esforços da gestão municipal para diversificar a economia local, destacando a atração de novas empresas, como o Guaraná Macaé — que agora possui domicílio fiscal em Quissamã —, além de negociações com uma empresa do setor offshore têxtil.
Além das flutuações naturais na produção da Bacia de Campos, o deslocamento dos investimentos para o pré-sal na Bacia de Santos e o contexto internacional seguem impactando os preços do barril.
Ranulfo completa: “A guerra comercial dos EUA desacelerou a economia global. Já os conflitos no Oriente Médio não causaram impactos maiores após a decisão de Trump de pedir que Israel evitasse novas ações contra o Irã. Se não houver agravamento, os preços devem se manter estáveis”.
Para o superintendente de Petróleo e Gás de São João da Barra, Wellington Abreu, a situação revela que a precificação do petróleo depende de fatores complexos, além da geopolítica, e mostra o quanto os orçamentos municipais estão expostos às decisões globais.
Fonte: Jornal Campos 24 Horas