“Dos municípios com mais de 200 mil habitantes no estado do Rio de Janeiro, Campos dos Goytacazes é aquele com maior facilidade para a ascensão social de sua população. Mais do que os demais fatores, a educação garante a independência econômica do indivíduo e aumenta as suas chances de alcançar um padrão de renda superior ao dos próprios pais”.
A conclusão é do geógrafo, estatístico e cientista de dados geográficos, Willian Passos, com graduação no Instituto Federal Fluminense (IFF), mestrado na Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) e doutorado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (Ufrj). Ele dados do Atlas de Mobilidade Social, do Instituto de Mobilidade e Desenvolvimento Social (IMDS).

O Atlas é uma ferramenta desenvolvida pelo IMDS para explorar e compreender as dinâmicas de mobilidade intergeracional de renda em diferentes regiões do país. Os dados avaliados por Willian são de 2025, impactados também por situações de anos anteriores. O geólogo considera os resultados fundamentais para apoiar a formulação de políticas públicas.
A probabilidade da camada pobre da população de municípios com mais de 200 mil habitantes, no estado do Rio de Janeiro, quando adulto, apresentar renda 10% maior que dos pais tem Campos em com 49% (empatado com Itaboraí), enquanto a capital fluminense aparece com 42%; Volta Redonda, 48%; Macaé, 47%; Magé, 47%.
Na seqüência para baixo aparecem ainda, entre os demais, Bel Ford Roxo, 44%; São Gonçalo, 43%, Duque de Caxias, 43%; Niterói, 43%; Petrópolis, 43%; Nova Iguaçu, 42%; São João de Meriti, 42%; Cabo Frio, 42%; Maricá, 42%; Nova Friburgo, 42%. “Significa que 49% dos campistas nascidos entre a metade mais pobre da população tem a chance matemática de alcançar, pelo menos, uma renda 10% maior que a dos seus pais”, resume o geólogo.
“Esse percentual supera, por exemplo, a chance de ascensão social dos cariocas. Isso porque, na capital do estado, a metade mais pobre da população só tem 42% de chance de ter uma renda 10% maior que a dos próprios pais”, observa Willian realçando: “Destaca-se que essa medida de 10% é uma métrica importante porque é usada internacionalmente como indicador de ascensão social e econômica”.
Entre fatores determinantes da melhoria do padrão de vida das pessoas, enfatizados no levantamento, estão também as oportunidades econômicas, o nível de renda dos pais, o grau de apoio familiar, em casos financeiros, o acesso a uma rede de proteção social, com programas de transferência de renda, em caso de necessidade, mas, especialmente, o grau de escolarização do indivíduo.
Willian ressalta que uma economia que gera empregos e uma sociedade que apoia o empresário e as pessoas em situação de vulnerabilidade são tão importantes, assim como o investimento em educação, tanto na educação básica, desde a primeira infância, passando pela alfabetização, quanto no ensino fundamental, ensino médio, superior e pós-graduação.
AÇÕES FAVORÁVEIS – Com especialização doutoral pela Escola Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), Willian justifica que decidiu explorar à exaustão os microdados da base estatística do IMDS por iniciativa própria, da chance de ascensão social da população dos municípios fluminenses com mais de 200 mil habitantes.
Repetindo os parâmetros trabalhados pelo Instituto Atlas, ele considera como chance de ascensão social a probabilidade da população desses municípios alcançarem, quando adultos, pelo menos, uma renda 10% superior a dos pais. “Considero essa medida fundamental não apenas para avaliar a mobilidade social individual da população, mas também para balizar as políticas de combate e superação da pobreza”.
O estatístico relaciona, entre as iniciativas, oportunidades econômicas, pela via do emprego com carteira assinada e do empreendedorismo, oportunidades educacionais, com a oferta de uma educação pública de qualidade, e uma forte política de transferência direta condicionada de renda, nos moldes do Bolsa Família, que oferece um benefício em forma de dinheiro em troca da matrícula na escola e da vacinação atualizada das crianças.
No caso particular de Campos, o biólogo avalia a administração Wladimir Garotinho como excelente, tendo em vista que o prefeito recebeu o município numa situação fiscal muito difícil, com quatro folhas salariais atrasadas. “Em municípios de interior, exatamente pela força econômica das prefeituras, que injetam uma massa salarial robusta, o pagamento em dia, dentro de um calendário específico, é fundamental para o giro, especialmente, do comércio e o movimento da economia”.
São destacados ainda como cruciais o governo municipal ter conseguido estabilizar a simulação fiscal do município e avançar com investimentos em melhorias urbanas, ampliando a rede de esgotamento e iluminação pública de led e a malha de pavimentação asfáltica e calçamento; além de melhora da gestão em serviços essenciais, como saúde e educação.
GRANDE GARGALO – Willian pontua como grande gargalo o transporte público: “Sendo um município maior que Niterói, Campos precisa de um modelo de transporte público de padrão metropolitano, com integração física e tarifária entre ônibus e vans. Mas, reconheço as dificuldades de viabilização de um modelo como esse num município com mais de quatro mil quilômetros quadrados de território, maior, inclusive, que o tamanho territorial da cidade do Rio de Janeiro”.
O secretário de Desenvolvimento Econômico de Campos, Mauro Silva, comenta que a alta probabilidade de a população mais pobre de Campos ter uma renda maior que seus pais comprova que as políticas adotadas nos últimos anos pelo prefeito Wladimir Garotinho vêm dando bons resultados.
“Um bom indicador disso foi a geração de 15.871 empregos com carteira assinada entre janeiro de 2021 e maio de 2025, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged)”, exemplifica Mauro acrescentando que, no mesmo período, foram abertas no município 7.633 empresas – o que levou Campos ao primeiro lugar no ranking no norte fluminense.
“Também aumentamos em 33% o número de Microempreendedores Individuais (MEIs) e estamos trabalhando fortemente no apoio ao artesanato e à Economia Solidária” lembra o secretário enfatizando que tudo isso é fruto de um conjunto de ações, como a retomada das obras de infraestrutura, o pagamento dos salários dos servidores em dia e a criação de um ambiente desburocratizado aos novos negócios, de todos os portes.
Outro indicador favorável, que Mauro acredita ter ligação direta com a geração de empregos, foi a redução de 17 mil famílias no Cadastro Único de Programas Sociais do governo federal (CadÚnico). “É sinal de que muitas pessoas estão ascendendo profissionalmente e socialmente, deixando de depender de programas sociais”.
Fonte: Jornal O Dia