O recente anúncio do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), de aumentar de 27% para 30% a mistura obrigatória de etanol na gasolina, pode representar um passo importante para a indústria sucroalcooleira do estado do Rio de Janeiro. Em especial, pode beneficiar o Norte Fluminense, região historicamente ligada ao cultivo da cana e à produção de etanol e açúcar.
Municípios como Campos dos Goytacazes, São Francisco de Itabapoana e São João da Barra carregam uma tradição canavieira que moldou a cultura, a economia e a ocupação territorial da região. No entanto, a crise das usinas, agravada a partir dos anos 1970, trouxe desemprego, desmobilização da infraestrutura industrial e perda de protagonismo regional.

Um dos motivos que mais pesaram no enfraquecimento do setor foram as sucessivas estiagens, que provocam quebras de safra significativas. Produzir 30% a menos do que o previsto — uma realidade nas últimas safras — costuma ser o limiar entre o baixo lucro e o prejuízo tanto para produtores quanto para as usinas. Simplesmente insustentável.
Mesmo sem o peso econômico que ocupava até meados do século XX, no entanto, o setor continua forte. A cana-de-açúcar gera atualmente cerca de 70 mil empregos diretos e indiretos no estado. Na safra 2025/26, o Rio de Janeiro deve moer 1,66 milhão de toneladas de cana. Ainda está muito longe das cerca de 8 milhões de toneladas moídas por ano na década de 1970. Mas, sem dúvida, continua sendo uma cultura significativa, que merece atenção.
Com a nova regra federal, o cenário é promissor. A demanda ampliada por etanol cria incentivos diretos à recuperação de áreas de cultivo e ao fomento de empregos no campo e na indústria. Além disso, alinha-se a uma tendência mundial de busca por fontes renováveis de energia e de redução das emissões de gases do efeito estufa. O etanol brasileiro, derivado da cana, possui um dos menores índices de pegada de carbono do mundo, o que reforça seu valor estratégico nesse novo contexto.
Para o Norte Fluminense, em especial, o aumento da mistura de etanol na gasolina precisa vir seguido de outras medidas para que o setor sucroalcooleiro volte a prosperar. Uma delas é a aprovação do Projeto de Lei 1440/19, que classifica como semiárido o clima dos 22 municípios do Norte e Noroeste Fluminense.Apresentado há seis anos pelo então deputado federal Wladimir Garotinho, atual prefeito de Campos, o PL 1440/19 prevê a alteração da Lei 10.420/2002, que criou o Fundo Garantia-Safra e o Benefício Garantia-Safra para os municípios atendidos pela Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), estendendo tais incentivos aos 22 municípios fluminenses para possibilitar apoio financeiro a agricultores familiares que sofrem perdas de safra por estiagem ou excesso hídrico.Este apoio será fundamental para a adoção de outros passos, em conjunto com órgãos públicos e instituições de pesquisa agropecuária e extensão rural, como o apoio à irrigação das lavouras, assistência técnica e cultivo de variedades de cana mais resistentes ao clima semiárido e com maior produtividade.
Fonte: Blog do Mauro Silva / Jornal O Dia