Um grupo formado por 12 pessoas que viviam em situação de rua em Cabo Frio, na Região dos Lagos do Rio de Janeiro, foi deixado no Centro de Linhares, no norte do Espírito Santo, na tarde de terça-feira (8), após terem sido transportadas em um micro-ônibus. De acordo com a Prefeitura de Linhares, elas foram levadas até a cidade com a promessa enganosa de oportunidades de emprego na colheita de café.
As vítimas foram encaminhadas à delegacia para registrar ocorrência. A Polícia Civil está apurando o ocorrido.

Imagens do sistema de videomonitoramento da cidade registraram o veículo, que circulava sem qualquer identificação. A placa e os registros das câmeras foram encaminhados à Delegacia Regional de Linhares. A administração municipal também acionou o Ministério Público do Espírito Santo (MPES) para acompanhar o caso.

Em um vídeo divulgado nas redes sociais, o prefeito de Linhares, Lucas Scaramussa, aparece conversando com um dos homens do grupo, que relatou estar em situação de vulnerabilidade e ter aceitado a proposta na esperança de conseguir um emprego.
“Quando alguém te oferece uma chance, você agarra. A gente só quer sair da rua. Disseram que aqui haveria empresários esperando, com alojamento, estrutura e pagamento entre R$ 20 e R$ 50 por saca de café”, disse o prefeito, reproduzindo o relato do homem.
Seis dos doze acolhidos foram encaminhados para a Casa de Acolhida São Francisco de Assis, e os demais foram levados para o Grupo Resgate, no distrito de Farias. Todos receberam cuidados básicos, incluindo banho, alimentação e atendimento médico.

Na manhã desta quarta-feira (9), a Secretaria Municipal de Assistência Social de Linhares iniciou a busca por familiares dos envolvidos. Um dos homens, originário da Bahia, já teve contato com a família restabelecido. A prefeitura informou que está providenciando sua reintegração familiar.
Um canal de contato foi disponibilizado para familiares que queiram obter informações: (27) 98115-2740.
A Polícia Civil informou que está avaliando se há tipificação criminal no caso. Até o momento, não foi constatado crime que justifique uma ação imediata da corporação, mas as investigações seguem em andamento, conforme a legislação vigente.
Posicionamento da Prefeitura de Cabo Frio
Segundo nota oficial, a Prefeitura de Cabo Frio declarou que as pessoas levadas para o Espírito Santo não são naturais nem residentes da cidade. De acordo com o comunicado, algumas vieram do próprio Espírito Santo em busca de trabalho durante o verão e utilizaram os serviços da Casa de Passagem. Posteriormente, manifestaram o desejo de retornar ao estado de origem, principalmente para tentar trabalho em colheitas, como a de café.
A prefeitura afirmou que a Casa de Passagem apenas organizou o transporte de retorno, com documentos assinados pelos beneficiados, e não fez qualquer tipo de intermediação com empregadores ou promessa de vagas.
Ainda segundo o município, o envio das 12 pessoas a Linhares foi uma decisão pessoal dos envolvidos, que buscavam recolocação profissional por conta própria. A gestão reforçou seu compromisso com a transparência e com o respeito à vontade das pessoas em situação de rua.
Atuação do Ministério Público do Espírito Santo
O MPES, por meio da Promotoria de Justiça de Linhares, informou que acompanha os desdobramentos do caso e já está atuando para garantir apoio às pessoas envolvidas, além de investigar os responsáveis pela situação.
O órgão atua em duas frentes: identificação dos acolhidos para restabelecer vínculos familiares e apuração das circunstâncias do transporte e abandono. O MP também acionou a Promotoria de Cabo Frio e outros órgãos competentes para contribuir com as investigações.
Ainda nesta quarta-feira, uma reunião entre o MPES e a Secretaria de Assistência Social de Linhares definiu os próximos passos, com o objetivo de garantir a proteção e os direitos das vítimas, além da responsabilização dos envolvidos.
Fonte: G1