Na manhã desta terça-feira (24), a Polícia Civil deflagrou a Operação Cabo de Guerra, com o objetivo de desarticular uma rede criminosa responsável por impor, de maneira forçada, serviços ilegais de internet em comunidades sob domínio do Comando Vermelho, prática conhecida popularmente como gatonet. Desde as primeiras horas do dia, agentes do Departamento de Inteligência e Ações Estratégicas (DIA) enfrentaram intenso confronto no Complexo do Alemão. Como reflexo da operação, 18 escolas municipais suspenderam as atividades.
Os policiais também cumprem mandados de busca e apreensão em diversos pontos, incluindo Duque de Caxias, na Baixada Fluminense; São Gonçalo, na Região Metropolitana; Cabo Frio, na Região dos Lagos; além de outras localidades do estado. O objetivo é recolher documentos, arquivos digitais, equipamentos de conexão e registros financeiros que possam comprovar os crimes e ampliar o conhecimento sobre a atuação da quadrilha.

De acordo com as investigações, os provedores ilegais, com apoio logístico e estrutural da facção, estavam forçando a contratação dos seus serviços por meio de práticas violentas, como sabotagem de concorrentes, ameaças a moradores e comerciantes, além do uso de equipamentos roubados e veículos descaracterizados para as ações ilícitas.
Como funcionava o esquema?
Vídeos e fotos obtidos pela polícia mostram homens destruindo cabos de fibra óptica de empresas legalizadas em Jardim Primavera, Duque de Caxias. Esses indivíduos atuavam em nome de companhias ligadas diretamente ao esquema.
Na Praça Seca, Zona Oeste do Rio, novos flagrantes mostraram uma empresa eliminando concorrentes à força. Um carro vinculado ao grupo foi flagrado circulando irregularmente pela área, sempre em regiões onde os provedores rivais haviam sido retirados do ar.
Em outro endereço investigado, foi encontrado um galpão com equipamentos de rede provenientes de roubos e peças de veículos com origem suspeita. A análise patrimonial apontou que carros adquiridos em leilões de seguradoras eram usados para dificultar o rastreamento e esconder bens empregados nas ações criminosas.
A quadrilha agia de forma estruturada, com funções bem definidas: desde a execução das sabotagens e instalação forçada dos serviços até o controle territorial da internet nas comunidades. Tal organização configura crime de associação criminosa, além de envolvimento com receptação, lavagem de dinheiro e interferência ilegal em serviços de telecomunicação.
A Polícia Civil ressalta que o domínio da internet por grupos criminosos prejudica o direito à comunicação, ao acesso à informação e à inclusão digital. “Ao impedir que empresas regularizadas operem, essas organizações afastam comunidades inteiras de serviços essenciais, como educação, trabalho, serviços públicos e o exercício da liberdade de expressão”.
Ainda segundo os investigadores, ao eliminar a concorrência por meio de violência, o esquema distorce o mercado, eleva os custos para os moradores e oferece serviços de baixa qualidade, sem qualquer regulamentação, beneficiando financeiramente as facções e fortalecendo seu domínio territorial.
A ação é conduzida por agentes da Delegacia de Defesa dos Serviços Delegados (DDSD) e da 21ª DP (Bonsucesso), com apoio da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) e de unidades do Departamento-Geral de Polícia Especializada (DGPE).
Fonte: Jornal O Dia