A conquista do primeiro Oscar brasileiro foi amplamente noticiada pela mídia internacional.
Na noite de domingo, Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, levou o prêmio de Melhor Filme Internacional – um feito histórico para o cinema brasileiro.

Em uma matéria no site da revista Variety, o título da reportagem destacou: “Oscars cheios de surpresas: [a atriz] Mikey Madison vence, Ainda Estou Aqui surpreende e [a compositora] Diane Warren sofre sua 16ª derrota consecutiva.”
Sobre o filme brasileiro, a revista comentou: “Considerando as 13 indicações de Emilia Pérez contra as 3 de Ainda Estou Aqui, parecia estatisticamente certo que o primeiro levaria o prêmio de Melhor Filme Internacional. Mas, para felicidade do Brasil, Ainda Estou Aqui triunfou.”
A publicação também sublinhou que Emilia Pérez é uma das grandes perdedoras da história do Oscar, tendo perdido 11 das 13 categorias que disputou.
A Variety também citou como uma das surpresas da noite a vitória de Mikey Madison como Melhor Atriz, que competia com Fernanda Torres, de Ainda Estou Aqui. Para a revista, a favorita era Demi Moore, de A Substância.
A revista People também destacou a vitória do filme brasileiro, classificando-a como uma surpresa: “Ainda Estou Aqui supera Emilia Pérez e conquista o prêmio de Melhor Filme Internacional no Oscar 2025.”
“Ainda Estou Aqui recebeu três indicações ao Oscar; além de Melhor Filme Internacional, o filme também foi indicado nas categorias Melhor Filme e Melhor Atriz, com Fernanda Torres. Sua campanha ganhou força após a atriz vencer o Globo de Ouro de Melhor Atriz Principal em Drama, em janeiro.”
Sobre Emilia Pérez, a People comentou: “Chegou ao Oscar deste ano com 13 indicações, o maior número entre todos os filmes indicados. A produção francesa também se tornou o filme de língua não inglesa mais indicado na história do Oscar, com suas 12 nomeações.”
A campanha do filme, no entanto, foi marcada por controvérsias, especialmente após a descoberta de postagens polêmicas de Gascón nas redes sociais, o que fez com que a atriz faltasse a outros prêmios importantes antes do Oscar.
A Hollywood Reporter, outro veículo especializado em entretenimento, ressaltou a “noite encantadora” de Fernanda Torres no Oscar.
“Embora Torres não tenha levado para casa o Oscar de Melhor Atriz, Ainda Estou Aqui conquistou o prêmio de Melhor Longa-Metragem Internacional. No tapete vermelho, ela brilhou em um vestido Chanel, reafirmando sua estrela na grande noite.”
A Hollywood Reporter também observou que Fernanda Torres era vista como uma outsider na disputa pelo Oscar de Melhor Atriz.
“Entretanto, de muitas maneiras, Torres e sua equipe já haviam conquistado um prêmio muito mais significativo, pois o filme, um sucesso de público no Brasil e baseado em uma dolorosa história real, provocou uma reflexão nacional sobre o passado autoritário e o presente recente do país.”
A Hollywood Reporter também comentou o discurso de Walter Salles na cerimônia.
“O diretor Walter Salles fez uma homenagem à mulher que inspirou o filme, Eunice Paiva, e às mulheres que deram vida aos personagens, as duas Fernandas: Torres e Montenegro.”
O Guardian e o New York Times também destacaram a homenagem de Salles a Eunice Paiva, Fernanda Torres e Fernanda Montenegro.
“Dirigido por Walter Salles, o filme foi um sucesso de bilheteira no Brasil, onde muitos relembram o legado da ditadura militar, que perdurou de 1964 a 1985”, escreveu o New York Times.
A agência de notícias Associated Press também distribuiu um texto sobre o impacto do prêmio no Brasil.
A agência de notícias AP destacou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que este era um momento para se ter ainda mais orgulho de ser brasileiro. Ele mencionou que no Sambódromo do Rio de Janeiro, onde acontecem os desfiles de Carnaval, “o locutor anunciou os resultados para dezenas de milhares de pessoas na multidão, provocando gritos de alegria”.
A revista Time também comentou sobre o Oscar conquistado pelo filme brasileiro, em um artigo que mencionou diversos marcos históricos da premiação de 2025, como o filme Flow, que se tornou o primeiro da Letônia a ganhar um Oscar, e a atriz Zoe Saldaña, que foi a primeira premiada de origem dominicana.
“Ao conquistar o Oscar de Melhor Longa-Metragem Internacional com Ainda Estou Aqui, o Brasil finalmente celebrou sua vitória após cinco tentativas anteriores”, escreve a Time. “Os fãs brasileiros se uniram ao filme e à sua representação de resiliência diante da opressão. A estrela Fernanda Torres também concorreu ao prêmio de Melhor Atriz na noite de premiação, embora Mikey Madison tenha saído vencedora nessa categoria.”
Antes da cerimônia, alguns sites haviam elogiado o filme, argumentando que ele merecia ser premiado não apenas como Melhor Filme Internacional, mas também na categoria principal do Oscar, onde estava entre os dez finalistas.
“O filme mais urgente do ano para a categoria de Melhor Filme é aquele que quase ninguém assistiu”, afirmou o site Slate.
“Entre os dez indicados ao Oscar de Melhor Filme, há alguns que buscam uma relevância contemporânea, alguns mais do que outros”, continuou o site.
“Mas nenhum parece tão necessário, tão essencial quanto Ainda Estou Aqui, nem tem uma atuação no centro tão intensamente poderosa quanto a de Fernanda Torres.”
Antes da premiação, o jornal britânico Guardian também destacou, em um artigo de seu correspondente no Brasil, “Por que Ainda Estou Aqui deveria ganhar o Oscar de Melhor Filme”.
“O retrato íntimo de Salles sobre as consequências emocionais da loucura ressoa com as manchetes de hoje, enquanto homens venezuelanos são enviados para a Baía de Guantánamo para agradar a base eleitoral de Donald Trump, e as tropas de Vladimir Putin destroem as vidas de inúmeras famílias na Ucrânia”, escreveu o artigo.
“Ainda Estou Aqui é um filme para os tempos cruéis e inquietantes que mais uma vez afligem o mundo. Se algum filme merece o Oscar de 2025, é este.”
Por sua vez, o New York Times havia destacado antes da cerimônia que esta era a oportunidade de a cultura brasileira finalmente ser reconhecida no cenário internacional, após ter sido ignorada por tanto tempo.
“Torres já era extremamente popular no Brasil, mas agora se tornou a estrela nacional do momento ao alcançar algo que há muito tempo não era conquistado pela maioria de seus colegas e predecessores: reconhecimento internacional”, escreveu o jornal.
“Por gerações, o Brasil gerou uma vasta e vibrante produção de arte, música, literatura e cinema — alguns deles excepcionais e muitos profundamente originais — que foram amplamente celebrados dentro do país, mas pouco conhecidos fora dele.”
Fonte: BBC