O caso parece enredo de novela, mas aconteceu de verdade em Cabo Frio. No sábado (22), a avó paterna de dois supostos bebês procurou a delegacia para registrar um boletim de ocorrência ao descobrir que sua nora, que afirmava estar grávida de gêmeos, na verdade, nunca esteve gestante. A farsa só foi revelada na sexta-feira (21), quando a jovem foi submetida a uma cesariana no Hospital da Mulher e os médicos constataram que não havia nenhum bebê.
Segundo a avó paterna, a jovem havia realizado um teste de farmácia e outros exames no ano anterior, todos com resultado positivo. Com isso, a família acompanhou a gestação, inicialmente acreditando que seria apenas um bebê. O anúncio foi celebrado com um chá revelação, organizado com grande entusiasmo. “Fizemos um chá revelação para Ana Sofia”, contou a avó, mencionando que a festa custou aproximadamente R$ 5 mil.

Cerca de um mês após o evento, a sogra da jovem começou a notar mudanças físicas incomuns. “O casal foi até minha casa e, quando ela sentou para lanchar, percebi algo estranho. Perguntei: ‘O que aconteceu? Sua barriga sumiu. Você emagreceu.’ Acredito que, nesse momento, ela já havia perdido o bebê e permaneceu em silêncio”, relatou. Apesar das suspeitas, a jovem continuou afirmando que tudo transcorria normalmente.
Algum tempo depois, ela surpreendeu a família ao dizer que esperava gêmeos. “Na primeira ultrassonografia, disseram que era um menino. Depois, veio a notícia de que seriam um menino e uma menina”, explicou a avó. A novidade intensificou os preparativos, levando a avó a comprar roupas para os bebês. “Fiquei tão feliz! Queria um neto e, de repente, seriam três, já que minha filha também estava grávida.”
No entanto, com o passar do tempo, a sogra percebeu inconsistências entre o relato da jovem e sua aparência física. “O tempo passava, a barriga da minha filha crescia e a dela, nada. Ela só engordava porque tomava vitaminas para gestantes. Meu filho comprava para ela”, afirmou.
No dia 14, o filho da avó paterna ligou dizendo que a companheira estava sentindo contrações e que o nascimento dos bebês poderia ocorrer a qualquer momento. Ele foi orientado a levá-la imediatamente ao hospital, mas a jovem preferiu aguardar a chegada da mãe. A sogra insistiu para que buscassem atendimento, alertando que a dilatação poderia evoluir rapidamente. À noite, foi informada de que a jovem havia ido ao hospital e recebido o diagnóstico de um centímetro de dilatação, com os bebês pesando cerca de 2,6 kg cada. Entretanto, o casal retornou para casa após a unidade de saúde decidir não interná-la. “Falei: ‘Isso não faz sentido. Leva ela para o Hospital da Mulher, porque a dilatação só aumenta’”, recordou.
Mesmo diante da situação, a jovem continuava reforçando a narrativa da gestação. Ela enviava mensagens e fotos relatando sintomas compatíveis com o trabalho de parto, mas em um ritmo incompatível com a evolução real de uma gravidez. “Três meses atrás, ela mandou foto dizendo que o tampão mucoso estava saindo. Se o tampão saiu, o bebê vai nascer logo, pensei. Mas ela respondia: ‘Não foi nada, estou bem’”, contou a sogra.
Os exames de ultrassom nunca eram apresentados diretamente. Sempre que solicitados, a jovem dizia que estavam com a mãe. O filho era quem repassava as imagens. “Eu pedia para ver os exames e ele me mostrava alguns. Mas quando perguntava a ela, dizia que estavam na casa da mãe”, afirmou a avó paterna.
Na semana prevista para o parto, a jovem informou que a cesariana estava marcada para o sábado (22). No entanto, a sogra, conhecendo o funcionamento do hospital, sugeriu que a internação ocorresse na sexta-feira (21). “Verifiquei o calendário e vi que sábado seria plantão. Como já acompanhei internações ali, sabia que não era o melhor dia. Então, sugeri que ela fosse na sexta-feira.”
Na madrugada de sexta para sábado, por volta das 3h, a jovem apareceu na casa da sogra. Mais tarde, às 7h, o filho acordou a mãe desesperado. “Ele gritava: ‘Mãe, mãe, acorda! Ela sumiu!’ Acredito que ela só não fugiu porque não encontrou dinheiro. Quando voltou, perguntei: ‘Estava tentando fugir? Hoje não tem como fugir, vamos esclarecer essa história’.”
No hospital, a jovem foi avaliada pela equipe médica. A avó paterna relatou que chegou a ouvir um som semelhante a batimentos cardíacos, o que reforçou, naquele momento, sua crença de que a gravidez era real. “Fui com ela para ouvir o coraçãozinho e cheguei a escutar um som por alguns instantes”, lembrou.
Como a jovem estava em jejum desde a noite anterior, a família pressionou para que a cesariana fosse realizada. “Levamos ela preparada para o parto dos gêmeos e queríamos que tudo fosse rápido. O médico pediu um ultrassom, mas dissemos que já tínhamos exames recentes”, contou a sogra.
O filho acompanhou a cirurgia e, poucos minutos depois, a equipe médica chamou a avó, que aguardava ansiosa para registrar o nascimento dos netos. “Entrei toda feliz para tirar fotos e os médicos me disseram: ‘Não há bebês aqui’. Quase desmaiei.”
Após a descoberta, a família e a mãe da jovem receberam atendimento psicológico no hospital. “Passei muito mal, meu filho entrou em estado de choque, e a mãe dela também precisou de apoio psicológico. Os profissionais estão avaliando se ela tem algum transtorno”, relatou a avó paterna.
Ainda abalada, ela nega qualquer erro por parte do hospital. “Quero esclarecer tudo e registrar um boletim de ocorrência. O hospital não teve nenhuma falha médica.”
A ocorrência foi registrada e a Prefeitura de Cabo Frio informou que está ciente do caso, investigando a conduta do médico responsável pelo atendimento da jovem. Uma nota oficial deve ser divulgada em breve.
A avó paterna afirma que, após o episódio, os profissionais envolvidos no atendimento da nora foram demitidos. Em uma entrevista ao jornal, ela fez um apelo ao prefeito Dr. Serginho para que a decisão seja reconsiderada, ressaltando que o procedimento só foi realizado devido à pressão da família.
Fonte: Jornal O Dia